quarta-feira, 24 de março de 2010

Tietê, o renascido

Quem passa pela cidade de Pereira Barreto pode perceber dois rios Tietê. Um deles, o rio da memória, resiste na narrativa dos moradores mais velhos. Ele corre num leito pouco largo, rodeado por mata fechada e com pegadas de animais selvagens nas praias de areia branca. A água, limpa e fresca, tem um tom de chá e escorrenum corpo sinuoso, sob o qual repousa umfundo irregular. Os enclaves submersos escondem peixes maiores que homens. Nos declives abruptos, formam-se cachoeiras, nas quais, em dias de sol forte, o vapor levantado faz surgir pequenos arco-íris. Esse Tietê não existe mais: habita apenas o passado, perdido entre as recordações e o desejo dos viajantes que não chegaram a tempo.

O outro Tietê é um pouco menos romântico, porém nada ausente. Salta tanto aos olhos quanto o rio imundo que se vê na capital paulista, símbolo da poluição no Brasil, só que vivo e limpo. Em Pereira Barreto, espalha-se por margens quilométricas e, mesmo sendo rio, tem cara de mar – na verdade, a represa da usina Três Irmãos, que no começo da década de 1990 transformou para sempre a paisagem local. Uma leve brisa sopra, empurrando as pequenas ondas na beira. Na água azulada, não se apreciam mais cachoeiras nem rochas. Tudo está embaixo d’água. Ladeada por gramados, campos de futebol, rampas de skate, quiosques com churrasqueira e pistas de cooper, a praia da cidade – apesar de ser um aterro artificial – é o ponto de encontro de jovens despreocupados e adultos com disposição para o esporte. “É a nossa melhor opção de lazer”, conta o pereira-barretense Sérgio Esperança Júnior de 16 anos. “Na verdade, é a única opção”, corrige o garoto, que fuma um narguilé (cachimbo de água) ao lado de três amigos.

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