quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Joias raras

Já ouviu falar de abio, saputá, mangaba ou cagaita? Maior produtor de frutas nativas do planeta, o Brasil abriga um raro e variado pomar para ser descoberto a cada mordida

Da Amazônia aos cerrados, da caatinga às florestas, o Brasil guarda sabores para todos os gostos. Neste país de proporções continentais e de regiões tão distintas, algumas das nossas maiores riquezas culinárias estão escondidas nos pomares que, apesar de pouco explorados, insistem em não arredar pé do nosso solo.
São frutas que estão depois das porteiras dos sertões, no meio mais denso das matas, nas encostas dos rios e bem longe das barracas das feiras. Mas que nem por isso deixam de amadurecer nas mudas e servir como um banquete aos animais e a algumas comunidades locais que conhecem muito bem os tesouros que se escondem na nossa diversificada flora. Tão diversificada, aliás, que fez do Brasil o maior produtor de frutas nativas do planeta.

Apocalipse na quitanda

Você conhece abacaxi, banana, maracujá, caju... mas já ouviu falar de abio, saputá, cambuci, mangaba ou cagaita? Pois é, essas são tão brasileiras quanto nossas velhas conhecidas, mas dificilmente já passaram pelo nosso paladar. O principal motivo é que muitas dessas frutas, consumidas há milhares de anos, só são conhecidas regionalmente, como o bacuri, da Amazônia, ou o pequi, do Centro-Oeste. Passados os limites das fronteiras que separam cada estado, elas se tornam apenas ingredientes curiosos, nomes estranhos aos quais não conseguimos atribuir um sabor específico. Qual, afinal, será o gosto de um uxi? (Só para matar a curiosidade do leitor: a fruta amazônica tem um gosto intenso e delicado, entre o abacate e a banana. Uma delícia, garante o povo de lá.)
Para apreciar essas frutas, na maioria das vezes, é preciso viajar para suas regiões de origem, já que é difícil encontrá-las em mercados. “Como o país é grande, a logística é complicada, principalmente para os frutos, que são perecíveis. Muitos deles, aliás, têm uma coleta pequena e, portanto, é praticamente impossível tê-los em todo o território nacional”, diz o sociólogo Carlos Alberto Dória, especialista em gastronomia e alimentação e autor do livro A Formação da Culinária Brasileira.

Exotismo delicioso

Em um sítio na cidade de Campina do Monte Alegre, no interior de São Paulo, pelo menos 500 espécies de frutas nativas estão bem conservadas pelas mãos de Helton Josué Teodoro Muniz, o maior colecionador de frutas exóticas do país. Durante uma pesca pelas margens do rio Paranapanema quando ainda era adolescente, ele viu uma planta esquisita com umas frutinhas que pareciam pequenas laranjas. Curioso, perguntou aos pescadores locais, que disseram que era saputá. Provou e adorou. Foi pesquisar mais sobre o fruto em um livro e acabou descobrindo outros tão desconhecidos quanto aquele. “Comecei a buscar novas espécies pelas margens do Paranapanema e troquei sementes com outros amantes da natureza”, diz.

Por Rafael Tonon
Foto: Eduardo Delfim

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