sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Entrevista: Kazuo Nakano

Espaço urbano é ocupado de forma desigual


“Os grupos com melhor renda e articulação política se apropriam das melhores porções das terras urbanas, que possuem maior concentração de empregos. Os de menor renda são obrigados a procurar alternativas de moradia. Essa disputa gera vários aspectos negativos”, explicou, em entrevista ao Espaço Cidadania, o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, pós-graduado em gestão urbana e ambiental pelo Institute for Housing and Urban Development - IHS de Rotterdam, Holanda. O especialista também é mestre em Estruturas Ambientais e Urbanas pela FAUUSP e foi gerente de projeto da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades. Atualmente, trabalha no Instituto Pólis.


* Espaço Cidadania: Qual a razão do crescimento das cidades?

Kazuo Nakano: Esse crescimento provém da disputa pelo acesso às terras urbanas, que são fruto de um processo de investimento público e privado muito forte em estrutura, rede de água, rede de esgoto, pavimentação, drenagem, energia elétrica. Isso torna essas terras objeto de disputa social. Os grupos com melhor renda, com melhor articulação política, são os que, em geral, se apropriam das melhores porções das terras urbanas, com maior concentração de empregos. Os de menor renda são obrigados a procurar alternativas de moradia nas terras menos valorizadas, mais distantes da área de emprego, mais precárias. Essa disputa gera vários aspectos negativos.


* Cidadania: Quais?

Nakano: Além da desigualdade social, essa expansão da periferia gera o adensamento de favelas, represas sendo ocupadas, poluição e trânsito. O emprego não expande como as pessoas. Continua concentrado. Aí, quem mora ao redor da região metropolitana demora uma hora ou mais para chegar ao trabalho.


* Cidadania: É um crescimento desordenado?

Nakano: Apenas olhando as cidades hoje em dia é perceptível ver uma desordem urbana. Mas na verdade não é, porque é baseada em uma lógica sócio-política.


* Cidadania: Então há quem leve vantagem nessa disputa? Nakano: Sim. Mas chegamos a um ponto em que eles estão perdendo. Os empresários, por mais que ganhem bem e tenham escritórios no melhor local da cidade, estão sofrendo com congestionamento, poluição, contaminação dos rios. Mas eles sempre encontram uma alternativa para minimizar os problemas. Quem sofre mesmo é a população de baixa renda.


* Cidadania: Como o planejamento público pode modificar essa situação? Nakano: Não temos um planejamento de governança metropolitana. Não resolvemos isso com políticas municipais, pois está tudo integrado. Estamos atrasados. As metrópoles são onde se concentram os principais problemas de condição de vida, principalmente para a população de baixa renda. E, apesar de ser o local onde temos essa pujança econômica, é onde se tem o principal nível de desigualdade social.


* Espaço Cidadania: Curitiba não é um exemplo de sucesso? Nakano: É um exemplo de planejamento a longo prazo, mas foi restrito ao município. Essa foi a falha deles. A melhoria das condições gerou uma série de impactos negativos, pois deslocou a população de baixa renda para a periferia metropolitana.


* Cidadania: O que deve ser feito para reduzir esse déficit habitacional? Nakano: Planejamento, principalmente no setor habitacional, pois após a extinção do BNH, em 1986, o setor foi desconstituído. Agora, parece que está renascendo, pois temos esse investimento do governo federal (Minha Casa, Minha Vida). Esse déficit só vai ser melhorado a médio e longo prazos.


Por Henrique Munhos
Fonte:
Espaço Cidadania

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