sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A tecnologia deve servir à humanidade e não ser mero instrumento do capitalismo

Débora Spitzcovsky

Como não poderia deixar de ser, nossa atual Constituição Federal tem um capítulo destinado à ciência e tecnologia que, não por acaso, está dentro do título da ordem social. Isso significa que, de acordo com nossa Lei maior, o desenvolvimento tecnológico deve atender ao bem-estar social e, portanto, ao bem comum, privilegiando sempre o cidadão.

De fato, diversas são as contribuições da tecnologia para a sociedade, tais como avanços nos estudos para prevenção e tratamento de doenças, utilização de máquinas para aumentar a rentabilidade do trabalho humano e da produção agrícola, novas possibilidades energéticas e disseminação da educação e do conhecimento. No entanto, apesar da Constituição enfatizar seu caráter social, a atual era individualista que vivemos restringe a tecnologia à lógica do mercado capitalista e, portanto, à economia, o que a afasta, cada vez mais, da prática e da vivência do bem comum. “Hoje em dia vemos, na maioria das situações, o uso com ênfase privatista da tecnologia, focada exclusivamente na questão de lucro, o que está gerando um aumento do fosso da desigualdade econômica e social”, explica o professor Luciano Sathler, pró-reitor de Educação a Distância da Universidade Metodista de São Paulo e presidente para a América Latina da Associação Mundial de Comunicação Cristã.

O professor de pós-graduação Ciências da Religião da Metodista, Jung Mo Sung, critica o uso puramente mercantil da tecnologia. “Temos o surgimento de várias tecnologias que são ótimas em termos meramente técnicos. Em termos humanos elas são ruins, porque pervertem os valores da sociedade. O avanço tecnológico que só fomenta a idéia de consumo gera uma sociedade que se identifica com o mercado. O homem é visto primeiro como consumidor e depois como cidadão. O certo, em uma sociedade cidadã, seria você primeiro ser cidadão. Mesmo não sendo consumidor, você é cidadão”, considerou o professor.

Uma das conseqüências dessa realidade é a exclusão digital, faceta da exclusão social. Nem todos os membros da sociedade possuem habilidade e recursos financeiros para acompanhar os avanços tecnológicos, o que dificulta ainda mais a prática do bem comum. “A tecnologia deveria estar a serviço de todos, inclusive dos mais pobres, dos analfabetos e dos mais idosos. Se deixarmos alguém de fora desse progresso, não é progresso. É simplesmente avanço da técnica. Para isso, cabem ao Estado, aos governos, à sociedade civil e, especialmente, às grandes corporações e empresas transnacionais repensar a tecnologia a serviço do ser humano”, defende Sathler, caracterizando a importância de uma discussão política sobre o tipo de governo que queremos para que a tecnologia seja colocada, afinal, a serviço de todos e não só de uma minoria.

Ainda segundo o pró-reitor de Educação a Distância da Metodista, é preciso também instigar a população a participar de forma presente das definições dos rumos tecnológicos da sociedade, para que as grandes decisões deste campo não sejam tomadas exclusivamente pelas empresas, movidas pelo lucro.

A educação passa a ser uma ferramenta fundamental para a formação de pessoas mais conscientes, participativas e melhor capacitadas profissionalmente para inclusão no novo mercado de trabalho que se configura. “É papel da universidade ajudar os seus alunos a desenvolver uma consciência de responsabilidade social, uma postura ética ativa perante as injustiças presentes em nossa sociedade. Ao promover este debate, fortalecemos a consciência entre alunos e funcionários à nossa participação na melhoria da sociedade”, afirma o diretor da Faculdade de Tecnologia e Informação da Metodista, professor Davi Betts.

Se usada com sabedoria e ética, a tecnologia pode representar uma forte aliada na luta por um mundo mais cidadão, justo e, portanto, empreendedor do bem comum.


Texto extraído do jornal Espaço Cidadania, publicação mensal do Instituto Metodista de Ensino Superior. Para conhecer a versão online e completa, acesse www.metodista.br/cidadania

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