quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um terreno fértil












A necessidade de saciar um mundo cada vez mais faminto de comida e biocombustíveis abre espaço para pequenas e médias empresas que podem aumentar a produtividade

O engenheiro agrônomo Leonardo Cândido, de 33 anos, procura nos céus por informações para compreender melhor o que pode interferir na produtividade das lavouras dos clientes de sua empresa, a Unigeo. A cada safra, Cândido recebe dezenas de fotos tiradas a quase 800 quilômetros de altitude por satélites que orbitam o planeta. As imagens, recebidas na sede da Unigeo, em Nova Mutum, município na região central de Mato Grosso, mostram com detalhes mais de 250 000 hectares de terra que pertencem a seus clientes, todos grandes fazendeiros. Cândido utiliza as fotos para mensurar o crescimento de plantações de soja, milho e outros grãos em cada pedaço de chão que pode ser visto do espaço. Os dados são comparados com análises de amostras de solo coletadas no campo pelos técnicos da Unigeo. “Desse modo, conseguimos mapear as áreas menos produtivas e descobrir se as plantas não crescem por falta de fertilizantes, por falhas nas máquinas ou por algum outro motivo”, diz Cândido.

No ano passado, a Unigeo obteve receitas de 4,1 milhões de reais prestando serviços a grandes produtores rurais dos estados de Mato Grosso e Goiás e da região oeste da Bahia — quase o triplo em relação ao faturamento de 2008. Como Cândido, uma nova geração de empreendedores está conseguindo aproveitar as oportunidades para fazer seus negócios prosperarem na cadeia do agronegócio ao buscar respostas para uma das principais questões deste século — como aumentar a produtividade das lavouras num mundo cada vez mais faminto de comida e biocombustíveis?

O temor de que um dia não seja mais possível extrair da terra tudo que é preciso para a sobrevivência é recorrente na história do homem. Essa possibilidade se tornou mais presente no imaginário coletivo desde que o pensador britânico Thomas Malthus cunhou, no final do século 18, uma frase que o tornou célebre: “A capacidade da população de se reproduzir é maior que a da terra de gerar subsistência para o homem”, escreveu ele no ensaio Sobre o Princípio da População, publicado em 1798. Mais de dois séculos de avanços tecnológicos pareciam ter afastado, da humanidade, o pesadelo malthusiano. Mas, recentemente, uma conjunção de fatores voltou a trazer as preocupações com a agricultura e com a produção de alimentos para o centro da agenda internacional:

• O mundo está ficando mais populoso e mais rico.
Projeções da Organização das Nações Unidas estimam que, em 2020, o planeta terá quase 8 bilhões de bocas para alimentar. Até lá, a renda per capita de toda essa gente deve crescer 26%, aumentando a demanda de comida, sobretudo nos países emergentes.

• A participação do agronegócio na produção de energia vai crescer.
Nos próximos dez anos, a fabricação de etanol e biodiesel deverá ocupar uma área 76% maior do que hoje, segundo previsão da Agência Internacional de Energia — o que pode provocar uma competição pelo uso da terra entre os produtores de biocombustíveis e os de alimentos.

• Os ganhos de produtividade no campo estão em queda.
Na segunda metade do século passado, o uso intensivo de fertilizantes, herbicidas e pesticidas fez o rendimento crescer, em média, 2% ao ano nas plantações mais produtivas.

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